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domingo, 20 de abril de 2008


Sabes... a vida por aqui não tem sido nada fácil. As pessoas, que todos os dias pisam as mesmas pedras da calçada que eu, estão malucas. Tornaram-se loucas pelo oxigénio que mastigam como pastilhas, em que o sabor não se gasta mas que deixa corantes de estupidez presos aos dentes de uma boca sem eles; As paredes agora são portas e as janelas são tapetes. Dizem que os carros já não andam junto ao solo porque a gasolina forma-se nas nuvens que os faz mover na diagonal com as mais absurdas direcções; os semáforos estão sempre verdes porque o vermelho torna-nos cegos, faz-nos ver tudo desfocado e em forma de triângulos que se vão movendo como pára-brisas desengonçados; A chuva deixou de molhar e deixa-nos perante uma seca como nunca em nenhum país se sucedeu. Por essa razão, utilizam-se guarda-chuvas para ir ao supermercado e os carrinhos das compras passaram a ser utilizados para transportar os livros que levo todos os dias para a escola. Junto ao balcão(...), onde tomávamos todas as quintas-feiras o nosso orgásmico shot que nos fazia alucinar para outro mundo, aquele mundo tão ridiculamente monótono,(...) que agora se tornou rádio, ouves um género de sons exurbitantes que me lembram tambores estragados... do género: rompidos por um tiro de uma bala não accionada mas que o som desta fez eco num lugar onde não existe vácuo; Vejo formas circulares que na verdade se deslizam paralelamente junto do meu ouvido direito, de onde agora consigo correr até onde não era capaz de o fazer com as minhas pernas; Porque as minhas pernas, agora ingerem comida como o meu único meio de sobrevivência aqui, neste estranho lugar exaustivo mas que nos apazigua ferozmente e (não) nos deixa evocar acontecimentos passados que na realidade não aconteceram.

Quem aqui está, à minha volta, não vê aqui qualquer sentido porque, na verdade, este mundo não é o deles. Nem nunca será. Porque é meu. E só faz simplesmente parte da minha imaginação.

terça-feira, 1 de abril de 2008





É... retrato.

É uma pobreza que nos clarifica uma tempestade de sensações. Um olhar que se transforma num tacto que, berrantemente, se interioriza. Nos torna capazes de...
E, por mais insensíveis que sejamos,
DEVORA-NOS! Através do movimento (não) insignificante dos ramos que, esfuziantemente, surgem pela brisa quente. E seca. E é esta secura que nos faz transbordar de vontades. Vontades de saborear novos gestos que nos garantem um enriquecer duradoiro.
Talvez tenha sido este povo quem inventou o arco-íris. Um juntar simples e (tão) bonito. Inventaram contrastes onde eu, anteriormente, julguei não serem possíveis existir. Sem nada, fizeram-no. Com tudo, nem se lembrariam de tal. E é isso que nos falta: saber o que é ter nada.

Eles têm-no e é por essa razão que, mesmo sem roupa para vestir, ganham o dia com o sorriso que lhes dou. Com tudo o que (nada) tenho. São ricos. Mais que qualquer outro povo. E a cultura que possuem alegra-nos com espirros de tanto que se entranha. E do tanto que a vivemos.


É... intenso.


Com vontade de lá regressar, Índia.

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