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quarta-feira, 12 de agosto de 2009


Parece que foi ontem que saíste da minha vida. De rompante, sem aviso prévio nem um pequeno livro de instruções que me permitisse esquecer-te de forma rápida, fácil, indolor. Uma pequena injecção de satisfação, uma pequena nota de rodapé, um sinal caído do céu, uma mensagem num avião ou, já agora, numa nuvem próxima. Nada. Nada leio naquilo que não me dizes, nem descortino entrelinhas enquanto andas pela margem; O espaço que existe entre nós não é mais do que matéria e por muito que queiras, será sempre matéria, vou lá contradizer a ciência. Parece que foi ontem. Agarraste na tua lábia de caixeiro-viajante, no teu sábio descabimento e no bom tempero das gargalhadas, e trocaste-me as voltas pelos lugares da memória. Foi aí que nos encontrámos. É aí que nos encontramos. É aí onde danço às escuras, para não me puderes ver. Onde demoravas apenas um segundo a dissolver-te em mim. Onde o meu abraço ainda tem a forma do teu corpo. Acho que vou sentir-te em mim durante algum tempo, a revolveres-me os órgãos internos e a retirá-los aos bocadinhos com uma colher nas noites em que ficar acordada até tarde. Ainda não esta escuro, acho. Mas eu já não te vejo. E parece que foi ontem, as mãos dadas, a cabeça no ombro, e essas tretas todas, impressões de felicidade. Mas esses dias já la vão, devorando a exactidão do tempo. Estes, um pouco menos bonitos, arrastam-se uns aos outros sem ti, engolidos por uma catrefada de imperiais, de cafés e de cigarros e conduzidos pela inexistência do gosto. E essa não é dos dias de ontem; É dos dias de hoje.

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