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quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Palavras de sabão


Não fales. Quero o eco do silêncio, a reboque da distância de segurança que assinalei entre nós. Quero o encontro (só!) das respirações, que esse vale a pena ouvir. Quero não me encheres os ouvidos de algo mais do que a tua voz, que me enjoa os sentidos; e de todas as tuas promessas que sabem a pó, o qual eu já tenho em demasia debaixo da cama mas que pelo menos não me serve de monstro quando a noite cai. Quero não me expores como fazes com as feridas, para depois me seres um buraco negro no qual cabe tudo aquilo para que não arranjo espaço no final do dia. Quero não me enterrares em mim como um prego enferrujado e não me prenderes os movimentos aqui de lado quando respiro, ando ou tento saltar. Quero não me acotovelares o piso onde me mantenho, e quase me jurares que o pé em falso que dou quando tropeço na estrada é obra tua. Quero não me sussurares a tristeza emaranhada que sentes, nem sentir sabes, nem falar sabes. Não, asério, prende antes o hálito do tabaco aos dentes e enrola as mentiras numa teia que não a minha. Que essas palavras escorregam-me a paciência fora, deslizam-me como um parasita, sem encontrar um fim à irritadiça da pele e quando acontece, muitas vezes sem eu estar à espera, cravam-me sem dó nem piedade por dentro; e às tantas o sangue flui, aflito, porque sei, de fonte segura, que o que me fazes cola-se às artérias e sabe a azedo. Não digas nada. Escreve, que o papel queima-se. Articula, que os gestos esquecem-se. Suspira, que eu entendo. Mas não fales (por favor, não).

sábado, 6 de dezembro de 2008


Ando a pisar o risco, mas nunca o ultrapasso. Derrapo-me sobre um fio ténue, onde há muito espaço à minha volta e as vontades, sozinhas, combinam-se e entram sem pedir licença. E eu, estúpida, decido-me a apenas! impor-me às fronteiras da boa educação e a limitar-me aos saberes da etiqueta, como manda a regra de qualquer um que se preze. Mas nunca demoro muito a cair em mim. A coreografia é inevitavelmente a mesma; sinto-me um maquinista louco, descarilando-me por uma série de carrinhos-de-mão em viagens trocadas. Até que a sequência dos actos acabam por ficar gravadas na raiz dos cabelos, na ponta dos dedos, no suor da pele. E aprendi da pior maneira que as minhas vontades fazem-se pagar caras, mas o que vale é que os actos ficam com quem os pratica.
Ando a pisar o risco, é verdade. Mas não faço a mínima ideia onde acaba a linha e ainda bem que também não quero saber.
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